segunda-feira, 6 de abril de 2020

A carta à igreja de Éfeso



A carta à igreja de Éfeso


Entre 60 e 63 d.C. o apóstolo Paulo enviou de Roma uma carta aos crentes efésios para ensiná-los acerca do significado maravilhoso de das implicações práticas de ser a Igreja de Cristo (Carta aos Efésios). Parece que essa carta não ficou restrita apenas aos crentes de Éfeso, mas circulou nas cidades vizinhas. Mas o tempo passou e uma nova geração de crentes surgiu em Éfeso. Foi a essa nova geração que o Senhor Jesus ditou ao apóstolo João a carta à igreja de Éfeso registrada no livro do Apocalipse. Como a data mais provável para o livro do Apocalipse é a década de 90 d.C., a carta à igreja de Éfeso foi escrita cerca de quarenta anos depois de aquela igreja ter sido fundada.


Na carta à igreja de Éfeso o Senhor Jesus se apresenta como “Aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro” (Apocalipse 2:1). Essa autodesignação de Cristo serviu para assegurar aos crentes de Éfeso que Ele é quem tem o controle da Igreja nas mãos. Ele dirige seus líderes e conhece as suas necessidades. Ele caminha no meio do Seu povo.

Depois da saudação e autodesignação de Cristo, a carta à igreja de Éfeso traz ainda um elogio, uma crítica, uma exortação e uma promessa.

Elogio à igreja de Éfeso



A igreja de Éfeso foi elogiada pelo Senhor Jesus por suas boas obras, trabalho árduo e perseverança. Aqueles cristãos trabalhavam pela causa do Evangelho. Além disso, a igreja de Éfeso também era intolerante com os homens perversos. A igreja pôs à prova homens que se diziam serem apóstolos, e descobriu que na verdade eles eram impostores (Apocalipse 2:2).

A igreja de Éfeso também odiava as práticas dos nicolaítas (Quem eram os nicolaítas?  Os nicolaítas eram agentes propagadores da imoralidade e da idolatria entre os primeiros cristãos. Esse povo é mencionado na primeira carta de Cristo direcionada à igreja de Éfeso, para a qual o Senhor declara: "Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio" (Ap 2.6). Como podemos entender, diante da contundência destas palavras, é importante saber quem eram os nicolaítas e quais eram as suas obras. Vejamos: Alguns estudiosos entendem que se tratavam dos discípulos de Nicolau de Antioquia. Nicolau pregava a libertinagem cristã e ignorava o corpo físico como o templo do Espírito, promovendo, assim, a prática da imoralidade sexual entre os cristãos. Ainda podemos acrescentar que tal ensino está correlacionado com a mesma imoralidade sexual pregada por Balaão, que encorajou as mulheres moabitas a seduzir os homens de Israel, conforme verificamos em Apocalipse 2.14,15, na terceira carta direcionada à igreja de Pérgamo: "Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem. Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio". Desta forma, vemos claramente a associação dos nicolaítas com a devassidão sexual, o que é confirmado em consenso pelos estudiosos que acreditam que os nicolaítas eram, muito provavelmente, agentes propagadores da imoralidade e da idolatria entre os primeiros cristãos, práticas expressamente reprovadas pela Bíblia: "Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus" (1Co 6.9,10 - grifo nosso).  que seguiam falsos líderes e propagavam ensinos que tinham por objetivo fazer os crentes tropeçarem (Apocalipse 2:6; cf. 2:14).


Perseverantes, os crentes efésios também suportavam sem desfalecer os sofrimentos por causa do nome de Cristo. Em Éfeso havia muito idolatria que movimentava a economia da cidade. Como o Evangelho reprovava o paganismo presente na cidade, naturalmente isso resultava em perseguição por parte dos incrédulos idólatras.

Além do mais, na cidade de Éfeso também havia um templo dedicado ao culto do imperador. A liderança romana obrigava os cidadãos da cidade a reconhecer a suposta divindade do imperador romano – que naquele tempo era Domiciano. Então ao invés de os crentes declararem o senhorio de César, eles declaravam o senhorio de Cristo. Tudo isso obviamente culminava num ambiente hostil e de intensas perseguições aos cristãos fieis.

Crítica e advertência à igreja de Éfeso

A igreja marcada por boas obras, trabalho duro e perseverança, também tinha um sério problema. Os crentes efésios tinham abandonado o primeiro amor (Apocalipse 2:4). A primeira geração da igreja de Éfeso tinha passado, e com ela também parece que o entusiasmo e a devoção fervorosa a Cristo também tinham ficado no passado. Faltava a essa nova geração a intensidade no amor pelo Evangelho que seus pais tiveram quando ouviram as boas novas de Cristo pela primeira vez.

Parece que os crentes efésios daquele tempo estavam mais apegados ao dever do que à devoção. Eles permaneciam fieis, mas faltava a eles o amor entusiasmado que já tinham demonstrado um dia. Eles eram guardiões da fé, mas não eram mais os arautos que tinham sido no início de sua história.

Nesse ponto a igreja de Éfeso parecia aquele tipo casal que depois de muito tempo ainda permanece fiel um ao outro pelos laços do matrimônio, mas falta o amor caloroso do início do casamento.

Na carta à igreja de Éfeso também vemos que aquela comunidade cristã foi convidada pelo Senhor Jesus a refletir sobre sua queda e se arrepender de seu erro para voltar a praticar suas primeiras obras (Apocalipse 2:5). Perceba então que Jesus não apenas criticou a igreja de Éfeso, mas advertiu acerca de como ela poderia corrigir o que estava errado.

Mas o Senhor Jesus também assegurou que se aquela comunidade falhasse em responder adequadamente ao Seu chamado de advertência, Ele a visitaria e tiraria o seu candelabro do seu lugar (Apocalipse 2:5). Isso significava que como congregação local, a igreja de Éfeso deixaria de existir.

Registros dos primeiros anos do Cristianismo confirmam que aquela geração de cristãos de Éfeso escutou as palavras de Jesus. Inácio de Antioquia, por exemplo, escreveu uma carta à igreja de Éfeso pelo menos dez anos depois da carta presente no Apocalipse. Em sua carta, Inácio elogia aquela congregação por sua perseverança e zelo pelo Evangelho. Mas posteriormente a ameaça do Senhor Jesus foi cumprida. Chegou o tempo em que a igreja de Éfeso deixou de existir.

Promessa à igreja de Éfeso

A carta à igreja de Éfeso termina com uma maravilhosa promessa. Antes, porém, o Senhor Jesus deixa a exortação comum em todas as cartas: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Essa é uma expressão idiomática que nesse contexto significa que os crentes devem ouvir com atenção e obediência as palavras que Cristo fala através do Espírito.

Depois vem a promessa: “Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus” (Apocalipse 2:7). É importante enfatizar que aqui o vencedor não vence por seus próprios méritos, mas pelos méritos do próprio Cristo que conquistou a vitória definitiva para o Seu povo. Mas ao mesmo tempo os redimidos são chamados a ter uma vida de santificação. Eles devem lutar contra o pecado e contra toda obra maligna de Satanás.
 
Com relação aos crentes efésios, na cidade de Éfeso havia grandes banquetes dedicados aos ídolos. Os pagãos procuravam atrair os cristãos para os seus cultos idólatras com esses banquetes. Mas os fieis receberam de Cristo a promessa de um banquete muito melhor. Eles haveriam de comer da árvore da vida, ou seja, não estava reservada para eles uma mera alegria passageira, mas, sim, a vida eterna no paraíso celeste.