A crise na liderança fica evidenciada
claramente no texto de 1 Sm 8. 1-3:
"Tendo Samuel envelhecido,
constituiu seus filhos por juízes sobre Israel. O primogênito chamava-se Joel,
e o segundo, Abias; e foram juízes em Berseba. Porém seus filhos não andaram
pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos, e
perverteram o direito."
Os filhos de Samuel não aprenderam
com o bom exemplo do pai. Filhos de bons líderes nem sempre alcançam a
excelência da liderança. Em vez de se inclinarem para fazer a vontade de Deus
"se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos, e perverteram o
direito".
Diante deste quadro, a primeira
atitude dos anciãos de Israel foi a de mudar o modelo da liderança da igreja:
"Então, os anciãos todos de
Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e lhe disseram: Vê, já estás
velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora,
um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações." (1 Rs
8.4-5)
O atual modelo de governo, para eles,
não funcionava mais. Vale aqui destacar, que nem sempre a mudança do modelo é a
solução para as crises na liderança. Em muitos casos, é nas pessoas que
lideram, e não no modelo de governo onde reside o problema. É preciso bastante
cautela e buscar a direção de Deus na hora de tão importante decisão.
Nos dias atuais, pentecostais,
tradicionais, reformados e outros segmentos evangélicos reclamam do modelo,
quando geralmente o problema está na liderança.
Mudaram o modelo para o governo
monárquico, mas os problemas não cessaram.
É nesse contexto que o povo pede um
rei, entendendo que de alguma forma isto fortaleceria o status e promoveria
certa segurança nacional (1 Sm 8.1-22). Conforme as exigências do povo Saul é
escolhido (1 Sm 9.1-27).
UM LÍDER EM CRISE
A postura, as atitudes, as decisões e
os comportamentos de Saul sinalizam um líder instável e em crise. Neste ponto
da Lição Bíblica é interessante comparar a crise de liderança de Saul com a
atual e dura realidade na vida de alguns líderes:
- É uma crise Espiritual. Crises
espirituais resultam de negligência em nossa relação com Deus e sua Palavra. Na
desobediência à sua vontade:
"Porém Samuel disse: Tem,
porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se
obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o
atender, melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o
pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do
lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti,
para que não sejas rei. Então, disse Saul a Samuel: Pequei, pois transgredi o
mandamento do SENHOR e as tuas palavras; porque temi o povo e dei ouvidos à sua
voz. Agora, pois, te rogo, perdoa-me o meu pecado e volta comigo, para que
adore o SENHOR. Porém Samuel disse a Saul: Não tornarei contigo; visto que rejeitaste
a palavra do SENHOR, já ele te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre
Israel. Virando-se Samuel para se ir, Saul o segurou pela orla do manto, e este
se rasgou. Então, Samuel lhe disse: O SENHOR rasgou, hoje, de ti o reino de
Israel e o deu ao teu próximo, que é melhor do que tu." (1 Sm 15.22-28)
Tais crises são geralmente precedidas
por uma certa acomodação na leitura devocional da Bíblia, na oração, na
contemplação, no relacionamento íntimo e na amizade com Deus.
Uma liderança mais apegada com o
fazer em detrimento do relacionar-se, mais apegada com o ter (poder e posses)
em detrimento do ser, mais apegada às coisas em detrimento das pessoas, mais
apegadas ao cargo em detrimento das tarefas, mais determinada em sucumbir às
pressões do povo do quem fazer a vontade de Deus, certamente vivenciará e
agravará momentos de crises. Estamos em crise no Brasil. A postura de uma
grande fatia da liderança evangélica cristã nos revela e comprava esta verdade.
O Senhor está rasgando alguns "reinos evangélicos" nos dias atuais.
Não demorou muito para espíritos malignos viessem a atormentar Saul (1 Sm
16.14-15);
- É uma crise Moral e Ética. Neste
nível, desencadeada pela crise espiritual, os valores pessoais são invertidos,
o certo é tido como errado e o errado como certo. Valores culturais, sociais e
morais do tipo família, casamento, amizade, honestidade, fidelidade e outros,
são dia após dia relativizados e banalizados. A liderança, desta forma, vai
perdendo a sua autoridade espiritual e moral, qualidades essenciais no líder
cristão verdadeiramente vocacionado por Deus:
"Fiel é a palavra: se alguém
aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o
bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio,
modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento,
porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria
casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém
não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja
neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do
diabo." (1 Tm 3.1-6)
- É uma crise Emocional. A alta carga
de trabalho e responsabilidade estão acabando (em alguns já acabou) com a saúde
emocional de nossos líderes. O stress, com todos os seus efeitos colaterais
(fadiga, mau humor, irritação, insônia, dor de cabeça etc.), as perturbações
mentais, a ansiedade, os temores, a angústia, a depressão, a síndrome do
pânico, a bipolaridade temperamental e outros males, acabam por fragilizar o
líder tornando-o incapaz de lidar com o povo e consigo mesmo:
"Tem cuidado de ti mesmo e da
doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti
mesmo como aos teus ouvintes." (1 Tm 4.16)
- É uma crise relacional. Os
problemas emocionais acabam afetando as relações interpessoais, onde muitas
vezes o líder transfere para aqueles que o cercam (família, amigos, liderados)
as suas mazelas. Tal situação tende a ficar insustentável. A falta de saúde e
equilíbrio emocional descredencia o líder vocacionado por Deus. Saber
relacionar-se é imprescindível:
"e que governe bem a própria
casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém
não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?);' (1 Tm
3.4-5)
"Não repreendas ao homem idoso;
antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas, como
a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza. Honra as viúvas
verdadeiramente viúvas." (1 Tm 5.1-3)
Líderes em constante e aguda crise
não se sustentam por muito tempo (a não ser em regimes absolutistas e
ditatoriais). Muitos que hoje se mantém nos cargos, mas, já perderam a
liderança. Deixaram de ser seguidos para serem temidos, deixaram de ser amados
para serem odiados, deixaram de ser aceitos e foram rejeitados.
São nestes momentos e condições que
Deus interfere soberanamente na história, destituindo e estabelecendo
lideranças, promovendo um novo líder para substituir aquele cuja disposição do
coração em muito se afastou do Senhor, da sua vontade, da sua Palavra.
Foram por estas razões que Saul foi
reprovado e rejeitado (1 Sm 13.14; 15.26-28) e Davi levantado como o novo líder
da nação (1 Sm 16).
Atendem lideres! Deus está lhes dando uma oportunidade de se arrependerem e terem suas visões restauradas!
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