A carta à igreja de Éfeso
Entre 60 e 63 d.C. o apóstolo
Paulo enviou de Roma uma carta aos crentes efésios para ensiná-los acerca do
significado maravilhoso de das implicações práticas de ser a Igreja de Cristo
(Carta aos Efésios). Parece que essa carta não ficou restrita apenas aos
crentes de Éfeso, mas circulou nas cidades vizinhas. Mas o tempo passou e uma
nova geração de crentes surgiu em Éfeso. Foi a essa nova geração que o Senhor
Jesus ditou ao apóstolo João a carta à igreja de Éfeso registrada no livro do
Apocalipse. Como a data mais provável para o livro do Apocalipse é a década de
90 d.C., a carta à igreja de Éfeso foi escrita cerca de quarenta anos depois de
aquela igreja ter sido fundada.
Na carta à igreja de Éfeso o
Senhor Jesus se apresenta como “Aquele que conserva na mão direita as sete
estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro” (Apocalipse 2:1). Essa
autodesignação de Cristo serviu para assegurar aos crentes de Éfeso que Ele é
quem tem o controle da Igreja nas mãos. Ele dirige seus líderes e conhece as suas
necessidades. Ele caminha no meio do Seu povo.
Depois da saudação e
autodesignação de Cristo, a carta à igreja de Éfeso traz ainda um elogio, uma
crítica, uma exortação e uma promessa.
Elogio à igreja de Éfeso
A igreja de Éfeso foi elogiada
pelo Senhor Jesus por suas boas obras, trabalho árduo e perseverança. Aqueles
cristãos trabalhavam pela causa do Evangelho. Além disso, a igreja de Éfeso
também era intolerante com os homens perversos. A igreja pôs à prova homens que
se diziam serem apóstolos, e descobriu que na verdade eles eram impostores
(Apocalipse 2:2).
A igreja de Éfeso também odiava
as práticas dos nicolaítas (Quem eram os nicolaítas? Os nicolaítas eram agentes propagadores da
imoralidade e da idolatria entre os primeiros cristãos. Esse povo é mencionado
na primeira carta de Cristo direcionada à igreja de Éfeso, para a qual o Senhor
declara: "Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas, as quais
eu também odeio" (Ap 2.6). Como podemos entender, diante da contundência
destas palavras, é importante saber quem eram os nicolaítas e quais eram as
suas obras. Vejamos: Alguns estudiosos entendem que se tratavam dos discípulos
de Nicolau de Antioquia. Nicolau pregava a libertinagem cristã e ignorava o
corpo físico como o templo do Espírito, promovendo, assim, a prática da
imoralidade sexual entre os cristãos. Ainda podemos acrescentar que tal ensino
está correlacionado com a mesma imoralidade sexual pregada por Balaão, que
encorajou as mulheres moabitas a seduzir os homens de Israel, conforme
verificamos em Apocalipse 2.14,15, na terceira carta direcionada à igreja de Pérgamo:
"Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a
doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos
de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem.
Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu
odeio". Desta forma, vemos claramente a associação dos nicolaítas com a
devassidão sexual, o que é confirmado em consenso pelos estudiosos que
acreditam que os nicolaítas eram, muito provavelmente, agentes propagadores da
imoralidade e da idolatria entre os primeiros cristãos, práticas expressamente
reprovadas pela Bíblia: "Não sabeis que os injustos não hão de herdar o
reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros,
nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os
bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus"
(1Co 6.9,10 - grifo nosso). que seguiam
falsos líderes e propagavam ensinos que tinham por objetivo fazer os crentes
tropeçarem (Apocalipse 2:6; cf. 2:14).
Perseverantes, os crentes efésios
também suportavam sem desfalecer os sofrimentos por causa do nome de Cristo. Em
Éfeso havia muito idolatria que movimentava a economia da cidade. Como o
Evangelho reprovava o paganismo presente na cidade, naturalmente isso resultava
em perseguição por parte dos incrédulos idólatras.
Além do mais, na cidade de Éfeso
também havia um templo dedicado ao culto do imperador. A liderança romana
obrigava os cidadãos da cidade a reconhecer a suposta divindade do imperador
romano – que naquele tempo era Domiciano. Então ao invés de os crentes
declararem o senhorio de César, eles declaravam o senhorio de Cristo. Tudo isso
obviamente culminava num ambiente hostil e de intensas perseguições aos
cristãos fieis.
Crítica e advertência à igreja de Éfeso
A igreja marcada por boas obras,
trabalho duro e perseverança, também tinha um sério problema. Os crentes
efésios tinham abandonado o primeiro amor (Apocalipse 2:4). A primeira geração
da igreja de Éfeso tinha passado, e com ela também parece que o entusiasmo e a
devoção fervorosa a Cristo também tinham ficado no passado. Faltava a essa nova
geração a intensidade no amor pelo Evangelho que seus pais tiveram quando
ouviram as boas novas de Cristo pela primeira vez.
Parece que os crentes efésios
daquele tempo estavam mais apegados ao dever do que à devoção. Eles permaneciam
fieis, mas faltava a eles o amor entusiasmado que já tinham demonstrado um dia.
Eles eram guardiões da fé, mas não eram mais os arautos que tinham sido no
início de sua história.
Nesse ponto a igreja de Éfeso
parecia aquele tipo casal que depois de muito tempo ainda permanece fiel um ao
outro pelos laços do matrimônio, mas falta o amor caloroso do início do
casamento.
Na carta à igreja de Éfeso também
vemos que aquela comunidade cristã foi convidada pelo Senhor Jesus a refletir
sobre sua queda e se arrepender de seu erro para voltar a praticar suas
primeiras obras (Apocalipse 2:5). Perceba então que Jesus não apenas criticou a
igreja de Éfeso, mas advertiu acerca de como ela poderia corrigir o que estava
errado.
Mas o Senhor Jesus também
assegurou que se aquela comunidade falhasse em responder adequadamente ao Seu
chamado de advertência, Ele a visitaria e tiraria o seu candelabro do seu lugar
(Apocalipse 2:5). Isso significava que como congregação local, a igreja de
Éfeso deixaria de existir.
Registros dos primeiros anos do
Cristianismo confirmam que aquela geração de cristãos de Éfeso escutou as
palavras de Jesus. Inácio de Antioquia, por exemplo, escreveu uma carta à
igreja de Éfeso pelo menos dez anos depois da carta presente no Apocalipse. Em
sua carta, Inácio elogia aquela congregação por sua perseverança e zelo pelo
Evangelho. Mas posteriormente a ameaça do Senhor Jesus foi cumprida. Chegou o tempo
em que a igreja de Éfeso deixou de existir.
Promessa à igreja de Éfeso
A carta à igreja de Éfeso termina
com uma maravilhosa promessa. Antes, porém, o Senhor Jesus deixa a exortação
comum em todas as cartas: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às
igrejas”. Essa é uma expressão idiomática que nesse contexto significa que os
crentes devem ouvir com atenção e obediência as palavras que Cristo fala
através do Espírito.
Depois vem a promessa: “Ao que
vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de
Deus” (Apocalipse 2:7). É importante enfatizar que aqui o vencedor não vence
por seus próprios méritos, mas pelos méritos do próprio Cristo que conquistou a
vitória definitiva para o Seu povo. Mas ao mesmo tempo os redimidos são
chamados a ter uma vida de santificação. Eles devem lutar contra o pecado e
contra toda obra maligna de Satanás.
Com relação aos crentes efésios,
na cidade de Éfeso havia grandes banquetes dedicados aos ídolos. Os pagãos
procuravam atrair os cristãos para os seus cultos idólatras com esses
banquetes. Mas os fieis receberam de Cristo a promessa de um banquete muito
melhor. Eles haveriam de comer da árvore da vida, ou seja, não estava reservada
para eles uma mera alegria passageira, mas, sim, a vida eterna no paraíso
celeste.
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