O SACERDÓCIO NO
LAR
O homem deve ser o
pastor do seu lar. Isto é um exemplo de vida cristã
“ Porém eu e a minha Casa serviremos ao Senhor. (Js 24.15.)”
A
Bíblia ensina que Jesus Cristo nos comprou com seu sangue para fazer de nós
reis e sacerdotes (Ap 5:9-10), o que nos faz compreender a visão do sacerdócio
universal do crente. Diferente da idéia pintada pela “igreja” há séculos, não
temos duas categorias distintas na Igreja: o clero e os leigos. Todos são
sacerdotes e deveriam funcionar como tais. A Bíblia distingue funções de
governo dentro da Igreja Local, mas não limita o sacerdócio a uns poucos
cristãos. Todo crente deve ‘funcionar’ em seu lugar no Corpo de Cristo, e todos
têm a responsabilidade de ministrar ao Senhor, bem como aos homens, em nome d’Ele.
Esta
visão tem sido resgatada em nossos dias, e somos gratos a Deus por isso.
Contudo, mesmo para aqueles cujo coração já se encontra aberto a esta verdade,
ainda vemos muitos com uma dificuldade: a de não enxergarem o sacerdócio do lar
como algo fundamental.
O sacerdócio começa no lar
Antes
de ser sacerdote na igreja, o homem tem que ser sacerdote na sua própria Casa:
É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só
mulher [...] e que governe bem a própria Casa, criando Os filhos sob
disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria
Casa, como governará a Igreja de Deus? (Tm 3:2a, 4-5.)
é porque vai governar a igreja que o bispo
(presbítero, pastor ou ancião) tem que ter um bom lar, mas justamente o
contrário. O homem tem que ser o pastor do seu lar; isto é requisito não só
para quem ingressa no ministério de tempo integral, mas é um exemplo de vida
cristã. E se a pessoa não cumpre um requisito básico da vida cristã, então não
tem autoridade para ser um ministro à frente da Igreja.
Portanto,
o mandamento de ser sacerdote no lar é para todo cristão. E isto envolve uma
excelente conduta familiar, que depois será cobrada do líder como exemplo para
o restante do rebanho: Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em
ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísse presbíteros,
conforme te prescrevi: alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher,
que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são
insubordinados. (Tt 1.5-6.)
O
homem, além de ser fiel à sua esposa, deve conduzir seus filhos no caminho do
Senhor e numa vida de santidade, o que exigirá dele não só conselhos casuais,
mas todo um acompanhamento, investimento e ministração na vida espiritual de
seus familiares. O posicionamento de um homem de Deus sempre deve envolver sua
Casa. Este foi o exemplo dado por Josué: Mas
se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais, se aos deuses
a quem serviram vossos pais, que estavam dalém do Rio, ou aos deuses dos
amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha Casa serviremos ao Senhor.
(Js 24.15.)
O
texto acima reflete a responsabilidade de Josué de não apenas buscar ao Senhor,
mas servi-lo com toda a sua família. Quando se trata de família, não existe a
história de “cada um por si”. Embora a responsabilidade de cada um diante de
Deus seja individual, precisamos aprender a lutar por nossos familiares,
especialmente aqueles que possuem a incumbência de exercer o sacerdócio do lar.
O
plano de Deus não é apenas para o homem sozinho, mas para toda a sua família.
Quando o Senhor decidiu julgar e destruir a humanidade nos dias de Noé, não
proveu salvação para ele sozinho, mas para toda a sua família (Gn 6.18). Vemos
também que Deus prometeu a Abraão que nele seriam abençoadas todas as famílias
da Terra (Gn 12.3). Ao tirar Ló de Sodoma, o anjo do Senhor fez com que ele
saísse com toda a família (Gn 19.12). No Novo Testamento encontramos um anjo
visitando Cornélio e dizendo que deveria chamar a Pedro, o qual te dirá
palavras mediante as quais será salvo, tu e toda a tua Casa (At 11.14). E além
de todas estas porções bíblicas, encontramos a clássica declaração do apóstolo
Paulo ao carcereiro de Filipos: Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e toda a
tua Casa. (At 16.31.)
Deus
tem um plano para toda a família. Não quer dizer que porque um se converteu,
todos irão converter-se por causa deste texto. Não creio que ele seja uma
promessa a todo crente, mas sim que revele uma intenção de Deus quanto às
famílias de uma forma geral.. Mas farei de tudo para convencê-los (a família ),
ensiná-los, cobri-los de oração intercessória e tudo o mais que for possível.
No caso deste carcereiro filipense, o Senhor mostrou de antemão toda a família
salva. Mas para cada um de nós, mesmo se não diga de antemão o que irá
acontecer, Deus já revelou seu plano em sua Palavra para toda a família. E o sacerdote do
lar tem uma grande responsabilidade de afetar o destino dos seus entes
queridos.
O cabeça é o responsável
Na
condição de cabeça do lar, o homem é o responsável de quem Deus cobrará o
exercício do sacerdócio. É óbvio que a mulher deve participar exercendo o
sacerdócio juntamente com seu marido, mas a responsabilidade maior não está
sobre os seus ombros. Muitos maridos se acomodam por ver sua esposa fazendo bem
o seu papel, mas não deveriam agir assim. Por melhor que seja a ajuda da
mulher, o homem tem que fazer a sua parte!
No
caso da mulher cujo marido não é convertido, entendemos que ela deve assumir a
posição de sacerdotisa sobre os filhos, porém não sobre seu marido. Parece-nos
ter sido exatamente o que aconteceu na casa de Timóteo, discípulo do apóstolo
Paulo. A Bíblia menciona apenas a mãe dele como sendo convertida: Chegou também
a Derbe e a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia
crente, mas de pai grego; dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e
Icônio. (At 16.1-2.)
E
além da Bíblia não falar nada sobre o pai de Timóteo sendo convertido, ainda
mostra que a cadeia de ensino e discipulado foi sendo transmitida por meio da
avó e depois da mãe dele: Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te,
para que eu transborde de alegria pela recordação de tua fé sem fingimento, a
mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou
certo de que também, em ti. (2Tm 1.4-5.)
Portanto,
na falta do homem como sacerdote, ou na incapacidade dele de exercê-lo – por
não ser convertido, por exemplo – a mãe assume este papel, porém sempre em relação
aos filhos, nunca em relação ao marido: E não permito que a mulher ensine, nem
exerça autoridade sobre o marido. (1Tm 2.12.)
Os
pais cristãos devem entender a sua responsabilidade de suprir não só as
necessidades materiais e emocionais de seus filhos, como também as espirituais.
A Palavra de Deus declara que Herança do Senhor são os filhos; o fruto do
ventre, seu galardão (Sl 127.3). Os filhos não nos pertencem, são propriedade
de Deus. Ele apenas nos confiou seus cuidados, e um dia teremos que responder
perante Ele por isso. Daremos conta da forma como criamos nossos filhos, e isto
deve trazer temor ao nosso coração, especialmente no que diz respeito à
formação espiritual deles. Não podemos brincar com esta questão!
Deus
está chamando os pais a assumirem um compromisso maior com Ele de ministrar a
vida espiritual de seus filhos. É preciso ministrar-lhes o coração. Desde os
dias da Velha Aliança o Senhor já esperava isto: Não te esqueças do dia em que
estiveste perante o Senhor, teu Deus, em Horebe, quando o Senhor me disse:
Reúne este povo, e os farei ouvir as minhas palavras, a fim de que aprenda a
temer-me todos os dias que na terra viver e as ensinará aos seus filhos. (Dt
4.10.)
No
versículo anterior a este, Deus já havia dito: ...e as farás saber aos teus
filhos e aos filhos de teus filhos (Dt 4.9), precisamos ministrar a Palavra de
Deus aos nossos filhos! Nosso ensino – ou a falta dele – tem o poder de afetar
o resto da vida deles; foi Deus mesmo quem declarou isto: Ensina a criança no
caminho em que deve andar, a ainda quando for velho, não se desviará dele. (Pr
22.6.)
Não se trata apenas de dar uma
boa educação, mas sim a verdadeira educação. Ensinar-lhes a andar nas veredas
da justiça, nos caminhos bíblicos. Isto também é um mandamento claro e expresso
da Nova Aliança: E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os
na disciplina e admoestação do Senhor. (Ef 6.4.)
Cobertura de oração
Também
vemos na Bíblia que o sacerdote do lar deve cobrir os seus com oração. A
Palavra de Deus nos mostra que Isaque orava a Deus para que abrisse a madre de
Rebeca, sua mulher. E Deus ouviu suas orações (Gn 25.21).
As
Escrituras ainda nos falam acerca de Jó, que periodicamente chamava seus filhos
para um culto e sacrificava ao Senhor em favor deles, com medo de terem pecado
contra Deus (Jó 1.5).
O
homem e mulher de Deus precisam ter um coração e uma vida de oração voltados
para cobrir e proteger a sua família. Vemos este exemplo na vida de Esdras:
Então, apregoei ali um jejum junto ao Rio Aava, para nos humilharmos perante o
nosso Deus, para lhe pedirmos jornada feliz para nós, para nossos filhos, e
para tudo o que era nosso. (Ed 8.21.)
Em
1Sm 30 lemos acerca de Davi e seus homens saindo para a batalha e deixando suas
mulheres e crianças desprotegidas em Ziclague. Enquanto
eles estavam fora, os amalequitas incendiaram a cidade e levaram suas mulheres
e filhos em cativeiro.
Três dias depois, eles chegaram e se desesperaram pelo
ocorrido. Finalmente, se fortaleceram no Senhor e foram atrás dos seus,
conseguindo resgatá-los. Aprendemos duas lições aqui. Primeiro que precisamos
proteger os nossos familiares, cobrindo-os em oração e não permanecendo
distantes deles. Segundo, que algumas vezes nos tornamos descuidados, e o
inimigo pode se aproveitar de nosso descuido. Mas também aprendemos que Deus é
fiel, e mesmo quando falhamos, sua misericórdia nos ajuda a consertar naquilo
em que erramos.
O
Sacerdócio envolve proteção. Deus nos mostrou isto em sua Palavra desde o
início, com o que ordenou a Adão, no Jardim do Éden: Tomou, pois, o Senhor Deus
ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e guardar. (Gn 2.15.)
Note
que além de cultivar o jardim, o homem deveria também guardá-lo, protegê-lo.
Mas guardar de quem, se nem mesmo Eva ainda havia sido criada? Penso que Deus
já estava indicando a Adão que Satanás, o inimigo de nossas almas, tentaria
destruir o que o Senhor estava colocando nas mãos do homem. Se Adão tivesse
protegido a Eva, em vigilância, bem como ministrando-a sobre a importância da
obediência ao Senhor, provavelmente aquilo não teria acontecido. Também nós
precisamos guardar e proteger nossas famílias, e isto envolve oração e
vigilância, bem como a ministração da Palavra de Deus em nossos lares.
Muita
gente fala da forma maravilhosa como Deus visitou a casa de Cornélio (At 10)
com salvação e enchimento do espírito santo. Mas isto não aconteceu de graça.
Este homem orava continuamente a Deus. E onde há uma semeadura de oração,
sempre haverá uma colheita da manifestação do poder de Deus! Se cobrirmos nossa
casa de oração, veremos feitos grandiosos acontecendo em nosso favor, pois o
Senhor SEMPRE age num ambiente de muitas orações.
Orando juntos
Penso
que além de cobrir os familiares com oração, o sacerdote do lar deve proporcionar
um ambiente de oração onde os seus não só recebam oração em seu favor, mas
também aprendam a orar. Orar juntos, em família, como muitas vezes acontecia
também com os irmãos da igreja em seu início: Passados aqueles dias, tendo-nos
retirado, prosseguimos viagem, acompanhados por todos, cada um com sua mulher e
filhos, até fora da cidade; ajoelhados na praia, oramos. (At 21.5.)
Exercer
o sacerdócio não é só declarar a Palavra de Deus dentro de casa, mas
primeiramente vivê-la. Porém, além de se dispor para ministrar aos filhos, e
também um ao outro, o casal cristão deve aprender a prática de orar juntos. Não
quero dizer orar juntos o tempo todo, mas isto deve também acontecer em suas
vidas. Quando o casal ora junto, goza de princípios operando em seu favor que
orando sozinho não se experimentaria. Ainda vos digo mais: Se dois de vós na
terra concordarem acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito
por meu Pai, que está nos céus. Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu
nome, aí estou eu no meio deles. (Mt 18.19-20.)
Ao
orar junto, o casal aumenta seu “poder de fogo” contra o inimigo, pois no reino
de Deus, quando dois se unem, o efeito não é de soma, mas de multiplicação. É
sinérgico! Moisés cantou acerca deste princípio ao mencionar o que Deus fizera
acerca do exército de Israel: Como poderia um só perseguir mil, e dois fazer
fugir dez mil, se a sua rocha lhos não vendera, e o Senhor não lhos entregara?
(Dt 32:30.)
A
Bíblia mostra que deve haver sintonia natural e espiritual entre o casal.
Desentendimentos vão roubar deles o poder de unidade nas orações, que por sua
vez serão impedidas: Igualmente vós, maridos, vivei com elas com entendimento,
dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como sendo elas herdeiras
convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações. (IPe
3.7.)
A
“correria” é um dos maiores inimigos deste tempo de oração que o casal deve ter
juntos. E cada um deve aprender a “driblar” suas dificuldades e conseguir
praticar este princípio de alguma forma.
Não
deve haver vergonha ou críticas quanto à forma de cada um orar. A intimidade no
que diz respeito à vida espiritual precisa ser desenvolvida da mesma forma que
a física e emocional.
O culto doméstico
Exercer
o sacerdócio no lar não requer um horário específico ou dia marcado, é
atividade a ser exercida sempre, em diferentes situações. Mas a prática de um
culto em família auxilia muito.
Devemos
desenvolver o hábito de cultuar a Deus em família, o que envolve o ir juntos à
Casa do Senhor (local onde se reúne a igreja), como vemos acontecendo desde os
dias do Velho Testamento: Todo o Judá estava em pé diante do Senhor, como
também as suas crianças, as suas mulheres e os seus filhos. (2Cr 20.3.)
No
mesmo dia, ofereceram grandes sacrifícios e se alegraram; pois Deus os alegrara
com grande alegria; também as mulheres e os meninos se alegraram, de modo que o
júbilo de Jerusalém se ouviu até de longe. (Ne 12.43.)
Elcana
subia com toda a sua família para adorar ao Senhor (1Sm 1.1-5). Acredito que
pais cristãos devem levar seus filhos à igreja. É melhor que eles cresçam num
ambiente que exalta ao Senhor e sua Palavra do que num ambiente mundano que
exalta o pecado e os prazeres da carne. Lemos no Evangelho de Lucas que os pais
de Jesus o levaram ao templo para consagrarem-no ao Senhor (Lc 2.22-24), depois
há registros de que o fizeram por ocasião da Festa da Páscoa quando ele estava
com 12 anos (Lc 2.41-43), mas a maior evidência de que Jesus cresceu exposto ao
ensino da Lei na Sinagoga era o conhecimento que ele trazia (como homem) das
Escrituras.
Cultuar
ao Senhor em família não envolve somente o ir à igreja, mas também pode
abranger um culto familiar na própria casa. Foi exatamente isto que aconteceu
na casa de Cornélio (At 10.33). A reunião familiar também não precisa acontecer
apenas dentro de casa. Além dos cultos na igreja, podemos nos reunir em algum
outro lugar (e até mesmo com outras famílias) para buscar ao Senhor (At 21.5).
A negligência trará
conseqüências
Quais
as conseqüências de se negligenciar o sacerdócio no lar? Juízo divino para o
sacerdote, além da evidente rebeldia dos filhos. A primeira palavra profética
que Samuel proferiu foi contra alguém que ele certamente amava: o sacerdote
Eli, que o criava no templo. E o que Deus disse envolvia a casa dele e sua
negligência no sacerdócio familiar: Naquele dia, suscitarei contra Eli tudo
quanto tenho falado com respeito à sua casa; começarei e o cumprirei. Porque já
lhe disse que julgarei sua casa para sempre, pela iniqüidade que ele bem
conhecia, porque seus filhos se fizeram execráveis, e ele não os repreendeu.
(1Sm 3.13.)
O
Senhor trouxe advertências anteriores, mas Eli não deu ouvidos. Deus está
falando de negligência aqui. Diz que embora conhecesse bem o pecado dos filhos,
Eli não os repreendeu. Toda omissão no sacerdócio do lar sempre trará
conseqüências sérias. Davi teve problemas com vários de seus filhos, e se você
estudar com calma a história dele, perceberá o quanto ele era negligente em
relação a seus filhos. Adonias, assim como Absalão, se exaltou, querendo
usurpar o trono. Mas por trás desta atitude de rebelião, a Bíblia mostra a
negligência de Davi como sacerdote em sua casa: Jamais seu pai o contrariou,
dizendo: Por que procedes assim? (1Rs 1.6.)
Se não quisermos sérios problemas
futuros com os nossos filhos, e muito menos ver a qualidade do relacionamento
deles com Deus sendo comprometida, então precisamos ser sacerdotes dedicados em
ministrar e cobrir suas vidas.
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