APRENDENDO COM A SÍNDROME DE CAIM
“Síndrome (do grego "syndromé", cujo significado é
"reunião") é um termo bastante utilizado em Medicina e Psicologia
para caracterizar o conjunto de sinais e sintomas que definem uma determinada
patologia ou condição.
Encontramos na
Bíblia a história de Caim e Abel, os
dois filhos de Adão, criados e educados da mesma maneira, mas com caráter e
personalidades totalmente diferentes.
Em um
determinado momento, Caim e Abel trouxeram uma oferta (fruto do trabalho deles)
ao Senhor. Era um momento específico, pré-determinado e muito provavelmente,
periódico, em que se deveria oferecer algo em sacrifício a Deus.
A diferença
entre a oferta de Caim e de Abel não era o produto em si, mas, o modo como
foram preparadas. Hebreus 11:4 diz que pela fé, Abel ofereceu uma oferta mais
extraordinária que a de Caim. Abel preparou sua oferta com fé, visando à
vontade de Deus como regra indispensável. Abel preparou sua oferta com zelo,
cuidadosamente separando ao Senhor o que tinha de melhor: as primeiras e
melhores crias de seu rebanho. Foi muita negligência Caim oferecer ao Senhor o
resto do que produziu; o resto de seu tempo, o resto de sua atenção. Deus não
se agrada de restos.
Analisando Caim
atentamente
Ele teve
inveja de seu irmão. A inveja é um sentimento que anda junto com a vaidade. É a
insatisfação com a própria vida. A pessoa invejosa não consegue ver as bênçãos
que Deus está derramando sobre elas, e estão sempre querendo as bênçãos
alheias. Assim foi Caim. Se tivesse reconhecido que Deus era o responsável pelo
sucesso de sua semeadura, não teria problemas em lhe trazer as primícias da
terra, como o fez Abel.
Ciumento, não
aceitou ver Deus dar mais atenção ao seu irmão. Ciúme é a característica de
quem é possessivo. De quem se acha dono das coisas. Deus é única pessoa no
universo que pode se achar dono de alguma coisa (Deuteronômio 10:14). O ciúme é
tão perigoso que turva a visão das pessoas. Caim não percebeu que Deus o amava
também, que se preocupava com ele. O ciúme nos torna injustos. Por isso Jesus
Cristo chama Abel de justo (Mateus 23:35).
Vejamos o que
esses dois sentimentos, quando fora de controle, podem causar em uma mente.
1. Caim teve tempo para se arrepender.
Deus conversou
com ele. A decisão de matar seu irmão não foi de uma hora para outra. O Senhor
explicou o que estava acontecendo, porque não havia atentado para sua oferta. O
motivo: a conduta de Caim (Gênesis 4:7). Além da oferta de Abel ter sido
melhor, Abel se comportava melhor. E Deus age assim até hoje.
Duas ovelhas
suas podem lhe trazer suas ofertas, mas, Ele atentará não para a oferta maior, mas, para
a oferta dada com uma atitude adoradora. Um exemplo claro disso está na
clássica passagem da oferta da viúva, onde, aos olhos de Deus, duas moedas
valeram mais do que as enormes quantidades de ouro e prata que eram depositadas
no gazofilácio do templo. Deus olha primeiro para dentro de nós, depois resolve
se aceita nossa oferta ou não.
Essa é uma
lição de ser aprendida até os dias de hoje, porque as pessoas preferem crer em
sua própria justiça.
2. Caim não deu ouvidos à repreensão.
Cego, não
percebeu que o Deus só o estava repreendendo porque lhe amava (Hebreus 12:6-9).
E isso é o que diferencia ovelhas de bodes. Adoradores de enganadores. Joio de
trigo. A capacidade de receber a exortação da Palavra de Deus como uma forma de
edificação. Só verdadeiras ovelhas convivem bem com a Palavra de Deus, quer ela
diga o que queiram ouvir ou não.
3. Caim premeditou o delito.
Uma das coisas
que melhor caracteriza a maldade é a premeditação. É quando nos preparamos para
pecar. É o planejamento do delito. O modo como Davi agiu em relação a Urias. O
modo como Jezabel agia. Judas. A Bíblia mostra que a maldade premeditada recebe
de Deus atenção especial. Caim, assim como Davi e Judas, recebeu sua punição
sem tempo do pecado esfriar, cair no esquecimento.
4. Caim inaugurou a era das casas divididas.
Em Mateus
10:36 Jesus faz essa surpreendente afirmação: “Os inimigos do homem serão os
seus familiares”. A questão é: que culpa teve Abel em tudo o que aconteceu? Que
culpa temos em servir a Deus com dedicação e com isso chamarmos sua atenção,
enquanto alguém que está ao nosso lado trata Deus de qualquer jeito ou ainda
com um coração dividido e nada consegue? É justo essa pessoa se irar contra
nós? Não. Mas é o que acontece.
Se alguém
demonstra mais amor pelas coisas de Deus que outras pessoas e são olhadas por
isso – o que é mais do que justo – acabam despertando (como em Caim) a inveja e
o ciúme em outras pessoas, sendo que a essas últimas só restam duas
alternativas: agirem com sinceridade com Deus ou seguir o caminho de Caim,
perseguindo aqueles que estão no caminho certo. E é impressionante como isso
ocorre dentro das casas.
É o que
chamamos síndrome de Caim, que é sempre procurar alguém para que possamos
transferir a culpa pelos nossos fracassos. Uma característica que, ao que
parece, ele herdou de seu pai.
Concluímos,
então, que, aparentemente, as ofertas de Caim e de Abel teriam o mesmo valor:
parte do trabalho e da produção deles. Mas quando Deus analisa motivação do
coração, vemos que as ofertas são totalmente diferentes.
Porém, Deus
também é bondoso e misericordioso e não deseja que ninguém pereça, mas que
todos cheguem ao arrependimento. Na história, vemos que Deus insiste para que
Caim investigue a causa de sua oferta não ter sido aceita. “Se você fizer o
bem, não será aceito?”
Infelizmente é
comum encontrarmos pessoas com a síndrome de Caim. Pessoas que ao serem
impregnadas com a cultura do individualismo, relativismo e narcisismo não se
acham responsáveis pelos seus irmãos. Tais pessoas não estão sensíveis ao
fato de eles estarem vivos ou mortos. Seus olhos estão voltados unicamente para
si próprios. Este é um lado sombrio da Síndrome de Caim, porém não é o
único. Existe um lado ainda mais sombrio, que revela um coração cujo
pecado já bateu a porta e recebeu acolhimento.
Não é raro encontrarmos pessoas que
absolutamente incomodadas com o sucesso do outro; com a beleza do outro; com a
desenvoltura do outro; com a simpatia do outro; com a facilidade de fazer
amigos do outro; com a generosidade de outro; com a alegria do outro,
elabora seus planos de morte. Se por um lado a Síndrome de Caim faz
com que a pessoa não se sinta responsável pelo outro, do outro lado pode fazer
da pessoa o próprio assassino. Não me refiro a morte física, ainda ela também
seja possível, mas neste caso me refiro a morte existencial. Por
vezes riscamos pessoas de nossa vida, matando-as com nossa indiferença, com
nossos comentários pejorativos, com nosso jeito articulado de tirá-las de
nossos grupos, com nosso talento de fazer as pessoas verem somente o nosso lado
conveniente da história. Incapazes de lidarmos com o outro e contrariados,
fazemos com que pessoas vivas sejam tidas como mortas por nós.
Simplesmente fazemos opção de enterra-las e seguimos a vida, sem que isto de
fato importe.
A grande
questão é que Deus continua perguntando: Onde está o seu irmão? O que foi
que você fez? Escute! Da terra o sangue do seu irmão está clamando!
A Síndrome de
Caim é uma patologia da alma que revela um lado obscuro, insensível, egoísta,
individualista e imaturo de viver. Deixa eu te fazer uma pergunta para
reflexão: Analisando sua própria vida, você percebe sinais da Síndrome de
Caim?
Hoje minha
intenção foi mostrar brevemente o problema da Síndrome de Caim. A patologia da
alma que nos faz insensíveis aos nossos irmãos. Fica agora uma
pergunta: Quem é esse irmão? Sobre isso falaremos na próxima
oportunidade.
Como tem sido
a oferta que temos entregado ao Senhor? Temos surpreendido ao Senhor com o
nosso melhor, em amor? Ou temos oferecido o que nos sobra e de qualquer jeito?
O que sobra do nosso tempo, o que sobra da nossa disposição, o que sobra dos
nossos recursos etc…
A verdade é
essa: se nos arrependermos, se corrigirmos os nossos caminhos, se fizermos o
bem, nossos pecados serão perdoados e nossa oferta será aceita. Mas cuidado! O
pecado constantemente nos ameaça; cabe a nós dominá-lo. Isso é palavra do
Senhor.
MESTREKAMEL