Para entender este enunciado de forma inequívoca faz-se necessário a observância de dois princípios: A leitura da palavra (Bíblia) e comunhão com Espírito Santo.
“A letra mata, mas, o Espírito vivifica” é uma
frase muito conhecida entre os cristãos. Ela é extraída de um texto escrito
pelo apóstolo Paulo registrado em 2 Coríntios 3:6. Curiosamente muitas pessoas
utilizam essa frase de forma completamente equivocada, especialmente para
rejeitar o estudo teológico.
Mas o que significa “a letra
mata”? O que Paulo quis dizer com “a letra mata, mas, o Espírito vivifica”?
Neste texto, entenderemos qual a interpretação correta desse versículo.
O contexto da frase “a letra mata,
mas, o Espírito vivifica” (2 Coríntios 3:6)
Para entendermos corretamente o
significado da frase “a letra mata, mas, o Espírito vivifica”, precisamos
primeiramente saber em qual contexto o apóstolo Paulo escreveu essas palavras.
O capítulo 3 de 2 Coríntios está dentro de uma seção da carta do apóstolo aonde
ele faz uma reflexão sobre a importância do ministério apostólico (2Co
2:14-7:4).
No capítulo 3 de Coríntios, Paulo
escreve dizendo que os cristãos convertidos ao Evangelho são cartas vivas (2
Coríntios 3:1-3). Com isso, o apóstolo estava se referindo ao fato de que
pessoas inimigas do verdadeiro Evangelho e opositores de seu ministério,
estavam utilizando cartas de recomendação fraudulentas para atestar a própria
causa.
Por outro lado, Paulo argumenta
que os próprios cristãos de Corinto, que tiveram suas vidas transformadas pelo
Evangelho, eram cartas vivas que comprovavam a legitimidade de seu ministério.
Ele estava dizendo que os cristãos genuínos são “manifestos como carta de
Cristo” que é lida por todos os homens. Essa carta não era escrita com tinta,
“mas pelo Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de
carne, isto é, o coração” (2 Coríntios 3:2,3).
Quando o apóstolo utilizou as
expressões “tábuas de pedra” e “tábuas de carne”, ele estava estabelecendo um
contraste entre a Lei do Antigo Testamento e a Lei do Novo Testamento, entre o
ministério de Moisés e o ministério apostólico instituído por Cristo. Moisés
deu aos israelitas a Lei em tábuas de pedra, e estes foram incapazes de
guardá-la no coração conforme o Senhor ordenou (Deuteronômio 6:6; 9:10). Por
isso os israelitas foram punidos com o Exílio.
No entanto, os profetas, especialmente
o profeta Jeremias e o profeta Ezequiel, falaram que haveria um tempo em que
finalmente o povo de Deus obedeceria a seus mandamentos em justiça e santidade
(Jeremias 31:22-34; Ezequiel 11:19; 36:26). Paulo então identificou que essa
promessa já havia começado a se cumprir durante o seu ministério. Os
verdadeiros seguidores de Cristo, capacitados pelo Espírito Santo, agora podem
viver uma vida que agrada a Deus.
Assim como Deus designou Moisés
para ser o profeta da antiga aliança em Israel, Paulo foi escolhido por Deus
para ser exercer seu ministério como ministro da nova aliança. É justamente
baseado nesse contexto, onde o apóstolo falou sobre a nova e gloriosa aliança,
que ele escreveu a frase “a letra mata, mas o Espírito vivifica”.
O que significa “a letra mata, mas, o Espírito vivifica”?
Com base no contexto descrito
acima, é fácil entender o verdadeiro significado de “a letra mata, mas, o
Espírito vivifica”. Nessa frase, a “letra” que o apóstolo se referiu significa
a Lei Mosaica, que mostrava a incapacidade humana em obedecê-la. A Lei apontava
a desobediência dos homens para com os mandamentos de Deus.
Os religiosos judeus entenderam
essa Lei como um tipo de código externo, e com seu legalismo achavam-se
cumpridores da Lei. Mas na verdade, eles estavam sendo condenados por ela. É
por isso que “a letra mata”.
Por outro lado, quando o apóstolo
disse que “o Espírito vivifica”, isso significa que é o Espírito Santo quem
escreve a Lei de Deus no coração do homem. Ele é quem o capacita a viver de uma
forma coerente com os padrões morais de Deus, obedecendo a seus mandamentos.
Aqui e importante enfatizar que
Paulo não estava dizendo que a obra do Espírito Santo na vida dos redimidos por
Cristo é separada dos padrões morais da Lei. Ele não estava dizendo que o
Espírito é oposto a Lei. Ao contrário disso, ele estava dizendo que a tentativa
dos legalistas em tentar cumprir a Lei à parte da obra de Cristo, sem o poder
vivificador do Espírito Santo, é completamente frustrada e resulta em morte.
Não há qualquer mérito em nós
mesmos. Jamais poderemos agradar a Deus com base em nossa própria justiça. É
por isso que somos justificados pelos méritos de Cristo!
Portanto, quando o apóstolo
escreveu que “a letra mata, mas o Espírito vivifica”, ele estava simplesmente
dizendo que a prática de alguém observar a Lei externamente, mas ignorá-la em
seu interior, justamente por não ter o Espírito que o capacita a cumpri-la
verdadeiramente, não traz vida.
Em outras palavras, a letra mata,
mas, o Espírito vivifica porque não é a letra que muda o coração da pessoa,
mas, sim, o Espírito Santo. Sem Ele, o homem só poderá obedecer a Lei
superficialmente e exteriormente. Mas com o Espírito, o homem é capacitado a
cumpri-la em uma genuína obediência interior.
“A letra mata” não se refere à teologia?
Obviamente a expressão “a letra
mata” não significa uma proibição ao estudo teológico. Infelizmente muitos
grupos ao longo do tempo, na tentativa de priorizar o caráter espiritual das
Escrituras, acabaram condenando o estudo teológico.
Quem defende esse tipo de postura
acaba enfatizando um significado místico e oculto na Bíblia. Segundo quem pensa
assim, essa “espiritualidade” é negligenciada por quem se empenha em estudar a
Palavra de Deus. Para eles, alguém que preza por uma boa interpretação bíblica
é uma pessoa “carnal” que não consegue entender os mistérios que são revelados
apenas aos “espirituais”.
Todavia, a frase “a letra mata,
mas o Espírito vivifica”, como pôde ver, em nada sustenta esse pensamento
equivocado. É claro que precisamos sempre orar para que o Espírito Santo
ilumine o nosso entendimento a fim de que possamos compreender as verdades das
Escrituras. Mas ao mesmo tempo, devemos estudá-la e examiná-la diligentemente.