“Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu
mesmo; apalpai-me e vede, pois, um espírito não tem carne nem ossos, como vedes
que eu tenho” (Lc 24:39). Esta foi a
frase dita por Jesus Cristo após a ressurreição, esclarecendo aos discípulos
que ele não era um espírito, e sim, que ele havia vencido a morte.
Longe de pretender alguma rivalidade
entre crenças ou ferir a religiosidade de outrem, este artigo tem o
objetivo de discorrer sobre a visão cristã da mediunidade, de como o assunto é
tratado na bíblia.
A
palavra médium refere-se a “meio”, como uma espécie de conector entre dois
mundos (de vivos e de mortos), e inclui todas as suas práticas: psicográficas,
visuais, auditivas, intuitivas enfim, alguma comunicação atribuída aos mortos.
Já o termo necromancia refere-se à mediunidade dentro da magia negra e busca de
adivinhação; e a feitiçaria está ligada a rituais e obras de bruxaria. Com
frequência os praticantes de cada crença promovem diferenciação entre elas,
entretanto, a abordagem bíblica não as difere, ou seja, quaisquer dessas
manifestações trazem uma mesma fundamentação: pessoas que viveram na terra e
saíram do corpo carnal, manifestação de mortos.
De
acordo com as escrituras sagradas, após a ressurreição, Jesus apareceu aos
discípulos dizendo “Paz esteja convosco” e eles se assustaram,
ficaram espantados pensando tratar-se de algum espírito. Tendo percebido
isto, Jesus pediu que o tocassem e para esclarecer que ele havia vencido a
morte, mostrou-lhes as mãos e os pés (furados). Em seguida insistiu: “Sou
eu mesmo; apalpai-me e vede, pois, um espírito não tem carne nem ossos, como
vedes que eu tenho”.
Além
disso, para tirar qualquer dúvida de que não era o seu "espírito
morto" Jesus comeu parte de um peixe assado e um favo de mel. Pois se
alimentando diante de todos e sendo tocado por eles ficaria claro que ele teria
vencido a morte em sua totalidade.
Muito
antes dessa afirmativa, várias passagens do Velho Testamento já ilustraram a
desaprovação do Senhor quanto às práticas mediúnicas. Por exemplo a história do
rei Saul. Ele foi servo do Senhor, mas saiu da presença de Deus e agiu com
desobediência. O rei Saul dividiu a fé com outros deuses e consultou uma
médium: “Quando Saul se dirigiu à médium, o espírito de Jeová já por
algum tempo fora removido dele, e, de fato, Deus não lhe respondia às
indagações por meio de sonhos, nem pelo Urim (usado pelo sumo sacerdote), nem
por profetas” (1Sm 28:6).
Outro
exemplo ocorreu quando o profeta Isaías criticou o povo sobre esta
prática: “Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos
familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará
o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos? ” (Is 8:19).
O
rei Josias também é citado na bíblia como adorador fiel a Deus: “Aboliu
também Josias os médiuns, os feiticeiros e os ídolos do lar, e as abominações
que se viam na terra de Judá (...) antes dele não houve rei que lhe fosse
semelhante, que se convertesse ao Senhor de todo o seu coração, e de toda a sua
alma, e de todas as suas forças” (2 Rs 23:24).
Outro
profeta usado pelo Senhor foi Elias, que alertou o rei Acabe. Este rei levou um
tombo e adoeceu, mandou seus mensageiros consultarem o “deus Baal-Zebude” (um
deus de baal levantado na cidade de Ecrom) para tentar saber se ele seria
curado. O Senhor ordenou a Elias que o advertisse: “Porventura não há Deus
em Israel, para que consultes outro deus? Da cama que subiste, não descerás,
mas certamente morrerás" – de fato, posteriormente, o rei Acabe
veio a falecer. E foi o profeta Elias que, junto com Moisés, esteve presente no
monte quando o rosto de Jesus se transfigurou tamanho resplendor de sua luz.
Por sua vez, no Novo
Testamento a abordagem não é diferente.
Um
exemplo ocorre quando Paulo e Silas são presos por curarem uma jovem que
possuía um espírito de adivinhação: “E aconteceu que, indo nós à oração, nos
saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual,
adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a
nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação,
são servos do Deus Altíssimo. E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo,
perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando
que saias dela. E na mesma hora saiu” (Atos 16:16-18).
Paulo
de Tarso não foi contemporâneo de Jesus, mas se converteu após um encontro com
Ele. Uma divina luz veio do céu e o cegou a caminho de Damasco, e ouviu
a voz de Jesus a perguntar “Porque me persegues? ”. Paulo
alertou uma das igrejas por meio de uma carta, dizendo que surgiriam doutrinas
usando o nome de Jesus e a pretexto de “fazer o bem” enganariam a muitos. E
escreveu: “Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo
de luz” (2 Cr 11:14).
A
despeito de teorias reencarnacionistas, a Palavra de Deus diz que enquanto
Jesus não voltasse para buscar os seus, as vidas que falecem não são esquecidas
pelo Senhor, o justo juiz, pois após a morte dá-se o juízo: “E assim
como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois
disso o juízo, assim, também Cristo se tendo oferecido uma vez para
sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá uma segunda vez,
sem pecado, aos que aguardam para a salvação" (Hb 9:27).
Para
o cristão, a prática das boas obras é uma das consequências da fé cristã e
seria contraditório amar a Deus sem amar o próximo, o amor é generoso em sua
essência sem esperar retorno. Sobretudo, a salvação não se dá por meio de obras
caridosas, e sim por meio da fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador.
Este entendimento reconhece a graça de Deus (de graça, ou seja, Jesus pagou um
alto preço com sua morte na cruz do calvário). E é ilustrado em parábolas como
a dos “Trabalhadores da última hora”.
Após
a ressurreição, Jesus afirmou que voltaria para buscar o seu povo e até que
voltasse, derramaria Seu Espírito Consolador (entenda-se Sua presença, o Espírito
Santo de Deus) sobre todos os que cressem nele, no evangelho, na
Palavra Dele; pois Ele nunca nos abandonaria, estaria conosco até a consumação
dos séculos. Inclusive, disse que no dia de sua vinda Ele será visto nos quatro
cantos da terra.
Sob
essa perspectiva, uma vez consolados, Jesus não veio para os evoluídos, e sim
para os arrependidos de seus pecados. Pois de acordo com as escrituras o Senhor
não leva em conta o tempo da ignorância (ignorância da Palavra).
Para
os cristãos, muitas outras passagens ainda justificam a prática mediúnica como
algo que não provêm da vontade de Deus. Entre as mais conhecidas estão a
própria definição do Senhor como um “Deus de vivos e não de mortos”;
a orientação de Jesus para deixar “aos mortos a tarefa de enterrar seus
mortos” (Mt 8, 21:22), e ainda a fala dos anjos que estavam na porta
do túmulo de Jesus, direcionada para as mulheres que foram até o local na
intenção de recolher o corpo Dele: “Porque buscais entre os mortos aquele
que vive? ” (Cl 24:5).
Bibliografia:
Bíblia sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil 2 ed Barueri SP, Sociedade Bíblica do Brasil, 1988, 1993.
Bíblia sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil 2 ed Barueri SP, Sociedade Bíblica do Brasil, 1988, 1993.
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